24 de novembro de 2011

Tum, bate coração.

Quando eu não te tinha, não-te-ter era também um mal cardíaco que eu possuía, um mal que fazia meu coração pesar como chumbo. Coração machucado como o último morango no fim da feira de domingo, palpitando como martelo que enterra estaca em terra seca e dura. 
E Hermione, minha gatinha, surgia e deitava no meu peito. E só assim pro meu coração bater direito, no compasso do seu coração de gato. Seu coração batia no meu e o chamava pra dançar conforme ele fazia. E só assim, pelo menos durante a noite, meu coração - machucado, de chumbo, palpitante como martelo que enterra estaca em terra seca e dura - batia direito, no compasso de um coração de gato. 


Hoje não tenho nada. Nem coração, nem gato. 

21 de outubro de 2011

Are you there, god? It's me.




I found god, on the corner of the First with Amistad.
Where the West were all but won.
All alone, smoking his last cigarette.
I said “Where you’ve been?”
He said “ask anything”
“Where were you when everything was falling apart?”
                                    You found me – The Fray

Apoiei o peso do meu corpo e da minha alma naquele banco de pedra. Ele estava ali sentado. Meu deus, eu não pensava em deus fazia tempo.

-Oi, deus, ou qualquer que seja o seu nome. Pra facilitar, vou te chamar de Zé. Eu gosto desse nome. Então, Zé, as pessoas costumam falar com você no silêncio dos pensamentos, achei que esse lugar seria silencioso o suficiente. Só há o som dos pássaros e o vento que balança as margaridas. E eu buscava algo menos abstrato.
Pois bem, eu tive a ousadia de escolher um caminho pra mim. Alheio a todo e qualquer julgamento externo. Mas nunca se pode fugir deles, não é? Eu não entendia, no começo. Mas aquilo entrou na minha vida. E continua nela depois de todo esse tempo. E eu gosto tanto, Zé. Me faz bem, sabe? Eu dediquei todo o meu amor àquilo. Me escuta, você sabe o que é ser nada? O que é se sentir vazio? Aquilo me preencheu. E então o julgamento me atingiu como uma bofetada. E falaram em seu nome, dá pra acreditar? Como ousaram? O meu amor não era digno, foi o que disseram. Que poder eles tinham? E o amor puro que eu tinha, agora luta com a raiva por espaço. O meu coração era só amor, eles destruíram isso, Zé. 

Minha cabeça pesou e meus olhos arderam. Adormeci.

17 de outubro de 2011

Ah, eu gostaria de ter asas II

De repente, ali estava. Na beirada, como da última vez.
-Ei, Cas.
-Olá, minha menina.
-Por que está usando suas asas hoje?
-Pensei que gostasse delas.
-Não seja bobo. Ou melhor, não me faça de boba. Se veio me buscar, vamos logo. Estou pronta.
-Não, pequena. Vim pra te lembrar que está viva. Levanta-te! Quebra essa casca dura que te impede de executar até o mais simples movimento.
-Tenho medo, você sabe. E odeio sentir medo.
-Mas que graça teria se o sinistro medo sumisse de súbito?
-Olha como são lindas aquelas margaridas naquele pasto lá longe... Imagino como seria caminhar entre elas.
Vislumbrei a paisagem.
-Sabe que pularei e te salvarei como da outra vez, não é? Pois bem. Descobre a que veio, e então irá.
E dessa vez, foi ele quem pulou.



*Pra fazer o mínimo de sentido: Ah, eu gostaria de ter asas

2 de agosto de 2011

Be my baby.

Sabe do que acabo de lembrar? Aquela manhã, na biblioteca. Você ali, tão em paz folheando livros e dentro de mim um pandemônio completo. Diga a ela. Diga agora. Só tem vocês duas aqui!
Tremia. O fone no ouvido, tocava The Fray pela milésima vez.
 
If I don't say this now I will surely break
As I'm leaving the one I want to take
Forgive the urgency but hurry up and wait
My heart has started to separate
 Oh, oh Be my baby, I'll look after you.. 

Seja minha garota - eu queria te dizer. Eu vou cuidar de você. Abri a boca:
- E-er. E-eu... - Gaguejei.
 Fui fraca, covarde. "Mensagem enviada com sucesso!". Corri.
 - O que você tem? Parece Mal de Parkinson. 
- Tô com frio, me deixa.
- Mas o dia está tão ensolarado.
E tava um sol dos infernos mesmo. Dentro de mim.
Sorri.


*Se eu não disser isso agora eu certamente enlouquecerei
Como se deixasse a única coisa que quero ter
Perdoe a urgência, mas apresse-se e espere
Meu coração começou a se partir.

22 de maio de 2011

Apelo ao meu coraçãozinho de pêlo.



Ainda lembro de te ver saltitar ronronando em minha direção. E que apenas com um grito, lá estava. Lembro de como você odiava atenção dividida e ver uma porta fechada e de como ocupava todos os lugares da casa. Onde estás, pequenina? Eu não te vejo. Não estás aqui a me aquecer e meus pés estão frios como gelo. Por que sumistes? Não sabes que te preciso aqui? Sempre fostes minha companhia madrugada a dentro, em noites vazias. Onde estás, minha menina? Volte! Tão ágil, tão pequenininha, tão peludinha. Use seus poderes mágicos e pule de repente no meu colo. Mie indignada à minha porta fechada. Não gaste suas muitas vidas longe de mim. Volte. Eu sinto tanta saudade e simplesmente não consigo te deixar ir.


"(...) Você está quase sempre perto de mim, quase sempre presente em memórias, lembranças, estórias que conto às vezes, saudade..."

18 de abril de 2011

Margaridas não têm espinhos.

Sentada na minha cama, olhei em volta. Bem em cima da cômoda um porta-retrato com a foto de duas margaridinhas. Sorri por um momento, mas o sorriso foi se derretendo. Levantei-me e o segurei. "Olá, Margaridinha. Não posso te manter presa aqui, sabe. Longe do sol. Corres o risco de desgastar-se com a friagem úmida do meu quarto."
Segurava tão forte que o vidro se quebrou, cortando as minhas mãos. Retirei a foto de entre os cacos e a rasguei em vários pedacinhos. Joguei-os pela janela na brisa que passava e fiquei ali a observar seu vôo, seu brilho na luz do sol que se punha. "Margaridinha linda, não és mais minha. Segue agora feliz pelos ventos da vida."
E os meus olhos arderam quando a janela foi fechada.

Não vou roubar teu tempo, eu já roubei demais 

Your eyes were cold as ocean ♪

- Quem é aquela menina?
- Que menina?
- Aquela ali, com fones. Bastante concentrada no papel em que escreve.
- Ah, aquela menina.
- Uhum, ela é estranha né?
- Estranha como?
- Sei lá, parece que ela não existe pra vida.
- Hm, é. Ela fica tão imóvel que nem parece real.
- É, as vezes parece fantasma.
- Eu hein, Deus me livre.
- Não gosto de olhar pra ela.
- Né? Tem uns olhos assim frios. As vezes é como se ela olhasse através de nós.
- Shh! Para de falar, ela tá encarando a gente.

14 de abril de 2011

Venha pra perto de mim..

Fones no ouvido. Volume alto para não ouvir as vozes. Como se o silêncio fosse absoluto por trás da trilha sonora. Quinze passos e já me sinto como um detento que segue seu caminho pelo corredor da morte até a cadeira elétrica. Mas diferente do corredor da morte real, aqui as pessoas riem, fazem piada, se tocam e falam coisas. Tá estampado na minha cara de desprezo que eu não pertenço a isso aqui. É engraçado saber quantos postes tem no caminho até em casa. É engraçado o ardorzinho que dá nos olhos ao olhar para o lado e não ter aquela pessoa totalmente esparramada na sua cadeira, ou ver que sua caneta continua ali onde você deixou e não foi parar magicamente num outro estojo. Não, não é engraçado. Eu só queria me sentir em casa, casa é onde quer que você esteja comigo.
 
-Venha pra perto de mim e veja como eu estou só..

21 de janeiro de 2011

Sunrise

Tenho um Sol tão lindo e brilhante. Um brilho que me ofusca e encanta. Um Sol com mãos quentes que me percorrem o corpo, me acelerando os batimentos e arrepiando cada centímetro de mim. E com lábios também quentes que me dominam, silentes, quando de encontro a minha nuca. Lábios que me adoçam a boca e alma no segundo em que tocam os meus. Ah, meu Sol, que frio a sua ausência proporciona. Esperei horas aqui aqui sentada, só pra te ver nascer. E ainda que coberto por nuvens e tão longe lá no horizonte, teus raios me alcançaram hoje.

20 de janeiro de 2011

Julho de 2009.

Feira de Santana, Bahia. Julho de 2009.

Queen,

Os bons morrem jovens, já dizia o poeta. É, mas ele deveria saber que os nem tão bons morrem jovens também. Não  por influência do destino ou algo do tipo. Talvez por estupidez, por querer abrir mão de tudo, assim, de forma triste, trágica, covarde. Aposto 2 dedos da mão que você deve ter pensado: "Que vadia louca e estúpida!" É, acho que sou tudo isso, inclusive covarde. É ignorância dizer que precisa-se de coragem para tomar uma decisão dessa. Não. Precisa-se é de muita covardia.
Sabe, você é uma das pessoas mais inteligentes que tive a honra de conhecer. E não falo de boletins, escola. Vai muito além. Você sabe tanto da vida, mesmo estando nas primeiras primaveras da sua. Você me compreendeu de maneira singular, enxergando através dessa neblina de dureza e rebeldia. E por trás das palavras trêbadas, lia uma mente sóbria.
Olha, não compare a efemeridade de minhas palavras breves, das quais te considerei - especialmente - merecedora,  a infinidade do carinho que tenho por você. Dessa vez não pretendo ser prolixa.

ps.: Augusto estava certo, afinal.

     "É a solução de quem não quer perder aquilo que já tem e fecha a mão pra o que há de vir ♪ "

Voe por todo mar e volte aqui.

A verdade é que eu já estava desistindo e me joguei na frente de qualquer decisão que você fosse tomar. Como se pulasse de um abismo e você fosse o meu para-quedas, abrindo conforme sua vontade. Confiei minha vida a você, confiei a minha felicidade. Apostei todas as fichas. Agora que me dei conta da profundidade a que atingiu esse tão novo-e-imprevisível amor e o tanto que vai doer para arrancá-lo de lá. 
Sinto essas palavras como se tirassem o peso de seu significado de cima de mim. Sabendo que ao lê-las, compartilhará o meu fardo, pois não as confiei a mais ninguém. E conhecerá o meu coração, olhará dentro dele e lá encontrará  a memória e a experiência que lhe pertencem, que são você.  Sempre foi você.
É amor, to soltando da tua mão para que voe e alcance horizontes outrora sonhados por ti. Mas espero que volte. E que ao me ver teu coração bata tão forte quanto os cacos do meu.


"Aos caminhos eu entrego o nosso (re)encontro."