21 de dezembro de 2010

Que se há de fazer?

Hoje chorei por mim. Hoje chorei por você. Esvaziei, sabe? Não sei quando, mas adormeci no meio da dor. Acordei assustada e já passava das três. Um vento gelado entrava pela janela, provocando calafrios por todo o corpo. Não pensei em me encolher, nem puxar o lençol até o queixo, apenas joguei-o no chão.
É isso aí, pequena. Acostuma-te ao frio. Que se há de fazer?

15 de novembro de 2010

Caçador de raios

Nesse jeito de andar, cabeça erguida, bem ‘tô nem aí’ pra vida, já caminho há dezessete anos. Logo atrás de mim sinto a depressão que se aproxima, como uma nuvem carregada de chuva. Não há abrigo. Não me sinto pertencente a lugar algum. Imagino a chuva que está prestes a desabar sobre mim. Percebi que o passar do tempo me tornou cada vez mais ímpio e empedernido. Dois puta palavrões, que prefiro os dizer assim, causando estranhamento, do que um imediato entendimento clichê. 
Por um segundo penso em correr, talvez se eu for rápido o suficiente a nuvem não me alcance. Ou talvez, contrariamente, eu suba em algum lugar alto o bastante para, com sorte, ser atingido por um raio, comum em um tempo carregado como tal. Dois mil volts correndo pelo corpo, deixando para trás nada ao invés de pó. Do pó viestes, e é para lá que vais. Olha só que jeito atípico de morrer - Caçador de raios. Insano e desbravador. Só falta uma cortina e uma platéia.
Não. Nunca quis meus feitos testemunhados, pois isso é que torna as grandes ações mais fantásticas do que realmente foram. Assim maquiadas pelo contador da vez. Ninguém nunca terá realmente certeza do que houve, apenas você.
 Um raio que transforma em pó, de certo é mais interessante do que um corpo que afunda num mar, ou uma mente estraçalhada por um projétil. Tenho na minha mão um 38 com uma bala apenas. Numa roleta russa, entrego minha vida ao destino. E estou certo do que ocorrerá a seguir.
Desejo que o mundo tenha a decência de te manter jovem, Moleque. Diferente da alma velha e podre que me foi dada de presente. E olha,  garoto, desculpa. Desculpa por ser um péssimo exemplo de hombridade. Diversas vezes você testemunhou minha covardia e corajosamente mentiu para me proteger. Éramos você e eu contra o mundo. Agora é só você.
Eu odeio isso aqui, irmão.

9 de novembro de 2010

Sunshine


   Na primeira vez que você entrou em foco, pensei comigo que se não pudesse estar próxima de você, eu morreria. Eu devia estar cega todo esse tempo, nunca tinha visto você brilhando. E isso é algo com o que eu tenho que conviver. Você mudou tudo. Eu passei tanto tempo submersa, castigada por amores demasiadamente doados, amores platônicos, impossíveis. Não acredito que voltei só por causa de você. Eu tenho que te apagar, esquecer da sua existência. Mas bem devagar, pra o meu coração não esquecer também de continuar batendo.

14 de julho de 2010

Um cosmopolitan, por favor.

Ainda que sentada em um bar lotado, em algum lugar irrelevante - quando se acredita no acaso - me senti solitária. Bebendo algo que nem sequer lembrava o nome, pensando sobre minha vida boêmia de escritora, com meus vinte e poucos anos, e sobre a possibilidade de surgir uma personagem que com sorte ainda mudaria minha vida. Lembrei do colegial, que agora, uns quatro anos depois, parecia bem distante. As músicas que eu tocava no violão e o meu gosto por cowntry, a Rádio Nacional, tudo agora parecia pertencer à vida de outra pessoa.
Despertei do meu devaneio ao ouvir uma voz conhecida se dirigindo ao barman:
- Um Cosmopolitan, por favor.
Olhei para o lado.
- Não pode ser.
-Hey, Queen o que tem ouvido?

4 de junho de 2010

A verdade é transparente no mirar da tua retina.

Não consigo ler seus olhos confusos, não olhando tão de longe. Como se em meio a tanta cor eles apenas refletissem. Como uma janela de vidro fechada.
Lembro-me bem dessa cena, fruto de alguma brincadeira idiota, você se desequilibra no alto da escada. Como se tivesse sido programado, eu ao seu lado, sou o que você se segura pra não cair. Ali, olhando tão de perto, já não há reflexo. A verdade é transparente no mirar da tua retina. Como se pudesse ver dentro da alma e ouvir o que você pensa, e sentir o acelerar do coração devido ao susto de cair - ou ao toque. Tenho vontade de rir, rir pra sempre. Mas não de desespero, não dessa vez. 

30 de maio de 2010

Ironic

As luzes e cores me deixaram tonta. O som silenciara, mas era estranho porque as pessoas continuavam dançando. Confusa, sentei-me numa cadeira posta em um canto. Como se tivesse levado um choque de alguns mil volts, o meu coração palpitava dolorosamente e se tentasse ficar de pé, falharia.

- O que houve? – Perguntou alguém abaixando-se ao meu lado.
- É a minha possibilidade de felicidade saindo por aquela porta, segurando a mão de outro alguém.



Pra ler ouvindo Ironic- Alanis Morissette

15 de maio de 2010

Eu andei pensando..

Quer saber o quanto uma pessoa é importante? Imagine-se sem ela. Ou simplesmente abra totalmente mão dela por um tempo, veja o tamanho do buraco que se forma em você e o tanto que ele queima. E tente identificar as cores que faltam nas imagens que você vê. Mas é importante que você saiba ser frio e indiferente. Não demonstre fraqueza. Aja como se as coisas continuassem coloridas como sempre. E então você deseja encontrar algo morno, porque está tremendo de frio. É contraditório, pois sente que está em chamas por dentro, mas esse fogo não te aquece. Quando ninguém parece estar olhando, você fecha os olhos e sente-os arderem, descansa sua cabeça nas mãos com os dedos gelados cobrindo as pálpebras e o ouvido, como certa vez viu em algum lugar. O silêncio te envolve e aquele som de riso deixa de te chatear, a sensação é confortável e ali você baixa a guarda, secretamente. Porém, logo você deve por a sua máscara novamente. E então você sustenta um sorriso radiante, ainda que ele exija o pouco fôlego que te sobra. Ri de coisas idiotas e insignificantes, vindas de pessoas mais insignificantes ainda, só para provar que você pode agüentar, que a sua vida é a mesma e que é possível ser alegre e rir de coisas bobas.
 Você espera poder ser feliz assim. Mas entenda: as possibilidades de felicidade são egoístas, meu bem. Talvez você deva deixar o seu orgulho de lado. Ou talvez não haja nesse mundo felicidade para você. Mas nunca desista. Talvez você morra tentando.

26 de abril de 2010

Nightmares

         Lembro-me de uma menininha que não temia coisa alguma. Para ela o escuro era um detalhe, uma oportunidade. Hoje ela tem medo de fechar os olhos. Imagens, cores e sons. Um estranho que a observa do canto do quarto, sem nunca piscar. Se tivesse voz, ela perguntaria o seu propósito, se tivesse força, ela levantaria e o expulsaria de lá, mas algo a deixa imobilizada, como se amarras invisíveis em volta dos seus braços a prendessem ali. Uma raiva lhe consome, e com a raiva vem o medo: era impotente quanto a ele. O silêncio mantido permite ouvir os acelerados batimentos cardíacos dela como se o seu coração, além dos seus olhos, fosse o único a notar aquela presença.







1 de abril de 2010

" Toy Story " *

                A neblina que te envolve me impede de enxergar-te. Uma neblina furta-cor que me embaça a visão se olho diretamente. Não te olho. O efeito que provocaria, tal como a medusa, me transformaria em pedra. Um balde de água gelada no meu ego. Posso ver, você está bem. Percebo agora. Coisas que joguei fora deixaram um buraco em mim. E como será? Não sei. Apenas sei que tudo deixa de ser com um tempo. Então, de que valeram todos os esforços que fiz para salvar-te? Ainda assim caíste na gaveta de “quinquilharias” da minha memória. Como um brinquedo que insiste em quebrar-se e não há nada mais a fazer por ele. É o tipo de coisa da qual sentiremos falta. Falta que provoca feridas incuráveis. Sabe-se que brinquedo como aquele não se fabrica mais, mas agora ele não passa de algo pelo que não se pode fazer mais nada. E como não há coragem para jogá-lo fora, guarda-se ali, como uma lembrança do quão reluzente ele já fora. E talvez um dia à noite, numa noite mágica, procurando um livro que possa ler antes de dormir, você ache o tão estimado pertence e só assim lembrará a falta que sente e o tanto que quis esquecer-se dele.
                    
 Feliz Páscoa. Viva à hipocrisia, viva à futilidade. Viva às delícias pagãs e aos novos brinquedinhos estúpidos que vêm dentro delas a cada ano que passa.



17 de março de 2010

Só, somente só.

Fui enfileirando cada tijolinho daquele muro que cerca meu forte e só agora percebi que acabei por me enclausurar aqui, deixando todos de fora.
Sentei no chão e ri. Ri de sacudir, um riso histérico, digno de camisa de força. Ri da minha própria tragédia. Sou prisioneira.
Não importa o quão alto eu pule, o quão alto eu grite. Sem perceber, trabalhei com firmeza naquele muro. Um trabalho de já alguns anos, muitas vezes interrompido, muitas vezes atrapalhado. Mas os destruidores ficaram mais e mais escassos com o passar do tempo e não mais tentaram. Devem ter se cansado, acredito, assim como estou agora. Sento e apoio minha cabeça no joelho. Tenho vontade de chorar, mas aqui isso é intolerável. Não é permitido fraqueza, não é permitido remorso, todas as emoções ficaram do lado de fora. Aqui estou eu, rindo da ironia que durante tanto tempo preguei e que acabou por pregar uma peça em mim. E agora tenho a plena certeza de que serei a única que terá de morrer, quando for a hora de morrer por mim.

16 de março de 2010

Trash



De repente eu percebo. Paro por um segundo e olho meu reflexo naquele carro. Me sinto estranha, como se não coordenasse o meu corpo. Agindo mecanicamente, olho quando chamam meu nome, balanço a cabeça afirmativa ou negativamente quando me fazem perguntas. Quando a resposta precisa ser um pouco mais elaborada a minha voz sai num tom quase inaudível, não conseguiria falar mais alto se tentasse.  Tenho vivido só do essencial. Não me importo mais com datas ou presenças. Estou aqui apenas em corpo, um recipiente vazio. Minha alma e mente há muito vagam perdidas por aí.  Esqueci o que é ser, o que é sentir. Não ouço mais músicas, não assisto TV e não atendo o celular. Em mim só resta a sombra daquele pesadelo que tive certa noite. Não saberia dizer se estava realmente dormindo, se tudo foi real, mas agora não importa mais.  Minha sensação é de estar submersa. E poucas vezes venho à tona quando ouço aquele riso que ecoa em meu ouvido como o tilintar de milhares de objetos metálicos caindo no chão ao mesmo tempo. Aquele riso que era o meu escape, que me resgatava não importando o quão profundo eu estivesse. E aí, quando se faz silêncio, acabo por submergir ainda mais. Melhor parar agora. Eu só quero que acabe, que passe. E se isso não acontecer, eis aqui a última coisa que escrevo.

21 de fevereiro de 2010

Degradê.

           Eu, de verdade, já dispenso teus assuntos. Te ver já não faz meu coração disparar como antes. Depois de um tempo percebemos que as coisas e as pessoas não são como pensávamos.  Talvez seja a paixão que cobre nossos olhos como um óculos, deixando num tom cinza os defeitos e salpicando de verde berrante as qualidades do outro. É, a paixão. Com uma lente degradê e não totalmente escura como a lente do amor, que nos cega completamente. Então, visualizamos o outro acima de todas as necessidades, num pedestal. Por um bom tempo, pensamos na bagunça que seria a nossa vida sem essa pessoa. E o mundo se partiria em dois, o caos reinaria. Mas como todas as outras efemeridades da vida, assim foi para mim. Você não acha que já está na hora de eu ter a minha vida de volta?
          Ponho meu óculos de lado e enxergo um dia claro. Meus olhos lacrimejam ao olhar diretamente para o sol, mas me sinto confortável. O céu agora está claro. Os formatos das nuvens por um momento me fazem lembrar de ti, mas assim como as nuvens, as lembranças são varridas pelo vento. Desculpa, meu bem, mas o meu mundo é o mesmo sem você.

8 de janeiro de 2010

Ah, eu gostaria de ter asas.


Sentei-me bem na beirada e fiquei olhando lá pra baixo até me assustar com um leve movimento ao meu lado. Me impressionei com tamanha graça e beleza. Ele parecia um anjo, talvez até fosse. Eu nunca fui uma pessoa muito crente, mas é como se naqueles últimos momentos a minha mente tivesse se aberto a toda e qualquer possibilidade.
- Qual seu nome?
- Castiel.
- O que é você?
Eu não pude deixar de perguntar. Sabia que não podia ser humano. Ele simplesmente havia aparecido ao meu lado, feito mágica.
- O que você imagina que sou?
- Não sei ao certo. Um anjo?
Percebi que ele estava descalço, assim como eu. Balançando os pés justamente como eu estava fazendo.
- O que faz aqui, Castiel?
- Algo me trouxe aqui.
- Como acha que vai ser? – Perguntei olhando lá pra baixo.
Ele me olhou por um momento, me estudando.
- Talvez não precise ser.
- Para que veio aqui? Se foi para tentar me impedir, digo que perdeu sua viagem.
- Não, na verdade eu até pularei com você.
- Onde estão as suas asas?
- Elas não são necessárias agora.
- Ah, eu gostaria de ter asas.
- Asas te dão a leveza do vôo, mas você não imagina o peso que é preciso carregar nos ombros.
- Sabe, eu já carrego um peso sem ao menos ter asas.
- Entendo. E seria esse o motivo de estar aqui?
- Certamente.
- Milagres não existem, sabe?
- Não espero por um. E sabe, Castiel, não sei quanto a você, mas eu já vou indo.
E pulei.