Lembro-me de uma menininha que não temia coisa alguma. Para ela o escuro era um detalhe, uma oportunidade. Hoje ela tem medo de fechar os olhos. Imagens, cores e sons. Um estranho que a observa do canto do quarto, sem nunca piscar. Se tivesse voz, ela perguntaria o seu propósito, se tivesse força, ela levantaria e o expulsaria de lá, mas algo a deixa imobilizada, como se amarras invisíveis em volta dos seus braços a prendessem ali. Uma raiva lhe consome, e com a raiva vem o medo: era impotente quanto a ele. O silêncio mantido permite ouvir os acelerados batimentos cardíacos dela como se o seu coração, além dos seus olhos, fosse o único a notar aquela presença.
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