18 de abril de 2011

Margaridas não têm espinhos.

Sentada na minha cama, olhei em volta. Bem em cima da cômoda um porta-retrato com a foto de duas margaridinhas. Sorri por um momento, mas o sorriso foi se derretendo. Levantei-me e o segurei. "Olá, Margaridinha. Não posso te manter presa aqui, sabe. Longe do sol. Corres o risco de desgastar-se com a friagem úmida do meu quarto."
Segurava tão forte que o vidro se quebrou, cortando as minhas mãos. Retirei a foto de entre os cacos e a rasguei em vários pedacinhos. Joguei-os pela janela na brisa que passava e fiquei ali a observar seu vôo, seu brilho na luz do sol que se punha. "Margaridinha linda, não és mais minha. Segue agora feliz pelos ventos da vida."
E os meus olhos arderam quando a janela foi fechada.

Não vou roubar teu tempo, eu já roubei demais 

Your eyes were cold as ocean ♪

- Quem é aquela menina?
- Que menina?
- Aquela ali, com fones. Bastante concentrada no papel em que escreve.
- Ah, aquela menina.
- Uhum, ela é estranha né?
- Estranha como?
- Sei lá, parece que ela não existe pra vida.
- Hm, é. Ela fica tão imóvel que nem parece real.
- É, as vezes parece fantasma.
- Eu hein, Deus me livre.
- Não gosto de olhar pra ela.
- Né? Tem uns olhos assim frios. As vezes é como se ela olhasse através de nós.
- Shh! Para de falar, ela tá encarando a gente.