28 de fevereiro de 2014

Dois dias

            Sobra tanta dor. Sinto tanta vontade de gritar, tem muita coisa que eu não entendo e isso me dá uma sensação claustrofóbica. Tem dias que parecem durar séculos. Tem momentos que parecem ter acontecido há séculos. Sabe quando você era criança e, de repente, a energia acabava e tudo ficava completamente escuro? Sabe a sensação de tatear ao alcance de algo que te fizesse sentir seguro? E por alguns segundos você não se lembra como é a casa que você morou tantos anos, você não lembra a disposição dos móveis na sala. Você não lembra como chegar até o quarto da sua mãe, você não sabe como seguir o som da voz dela. Você fica apenas paralisado por alguns minutos, tentando não pensar nas coisas horrendas que poderiam te agarrar ali no escuro e ninguém perceberia, estreitando os olhos até que eles se acostumem à escuridão, mas eles nunca se acostumam. Eu nunca me acostumei. As vezes esse blackout acontece aqui, na minha cabeça. E é familiar a terrível sensação de tatear no escuro em busca de pensamentos seguros, tentando ouvir a voz que me guiaria até a caixa de fósforos mais próxima. É a mesma sensação de não reconhecer o lugar onde morou a vida toda. Não reconhecer as quinas e degraus da própria mente. Nunca soube como seria enlouquecer de verdade. Nunca parei realmente pra pensar onde estaria o limite da sanidade. Tenho esbarrado nele as vezes. Tem dias que parece que eu não vou aguentar. E eu ponho minhas mãos geladas em volta dos olhos, ordeno a mim mesma que pare de chorar. Pare de chorar. Como chegar até aquele pensamento seguro, nessa escuridão claustrofóbica? Como não esbarrar nas arestas dolorosas ao tatear até a saída? Como faz pra parar de doer? Como parar de doer? Por que tanta dor?