Ela detestava cigarros. Mas tinha dias que ela poderia fumar uma caixa inteira. Uma caixa de caixas. Tinha dias que o seu coração queimava e ardia. Tinha dias que ela tinha vontade de socar a parede tão forte até abrir um buraco tão grande quanto o que tinha dentro dela. Tinha dias que ela passava o dia inteiro sem pronunciar nenhum som. Tinha dias que ela tinha vontade de gritar PUTA MERDA, PUTA MERDA, PUTA MERDA. Tinha dias que ela sentia um ódio desumano, noutros um amor incontrolável. Tinha dias que a sua dor no ombro se fundia com a sua dor no peito que parecia um vórtex descontrolado sugando tudo pra dentro dela, tudo vindo de encontro a ela em velocidade máxima, com a força de algumas toneladas. Tinha dias que ela acordava com pensamentos tão aterrorizantes e levantava na tentativa de respirar com o que parecia o pulmão de um asmático. Tinha dias que ela ficava no escuro da hora em que acordava até a hora que dormia. Tinha dias que ela acendia todas as luzes e velas no quarto. Tinha dias que ela bebia até perder o tato. E ela frequentemente perdia.
Essa manhã quando acordou, ela já sabia que hoje era um daqueles dias em que tudo isso aconteceria. De vez.