17 de março de 2010

Só, somente só.

Fui enfileirando cada tijolinho daquele muro que cerca meu forte e só agora percebi que acabei por me enclausurar aqui, deixando todos de fora.
Sentei no chão e ri. Ri de sacudir, um riso histérico, digno de camisa de força. Ri da minha própria tragédia. Sou prisioneira.
Não importa o quão alto eu pule, o quão alto eu grite. Sem perceber, trabalhei com firmeza naquele muro. Um trabalho de já alguns anos, muitas vezes interrompido, muitas vezes atrapalhado. Mas os destruidores ficaram mais e mais escassos com o passar do tempo e não mais tentaram. Devem ter se cansado, acredito, assim como estou agora. Sento e apoio minha cabeça no joelho. Tenho vontade de chorar, mas aqui isso é intolerável. Não é permitido fraqueza, não é permitido remorso, todas as emoções ficaram do lado de fora. Aqui estou eu, rindo da ironia que durante tanto tempo preguei e que acabou por pregar uma peça em mim. E agora tenho a plena certeza de que serei a única que terá de morrer, quando for a hora de morrer por mim.

16 de março de 2010

Trash



De repente eu percebo. Paro por um segundo e olho meu reflexo naquele carro. Me sinto estranha, como se não coordenasse o meu corpo. Agindo mecanicamente, olho quando chamam meu nome, balanço a cabeça afirmativa ou negativamente quando me fazem perguntas. Quando a resposta precisa ser um pouco mais elaborada a minha voz sai num tom quase inaudível, não conseguiria falar mais alto se tentasse.  Tenho vivido só do essencial. Não me importo mais com datas ou presenças. Estou aqui apenas em corpo, um recipiente vazio. Minha alma e mente há muito vagam perdidas por aí.  Esqueci o que é ser, o que é sentir. Não ouço mais músicas, não assisto TV e não atendo o celular. Em mim só resta a sombra daquele pesadelo que tive certa noite. Não saberia dizer se estava realmente dormindo, se tudo foi real, mas agora não importa mais.  Minha sensação é de estar submersa. E poucas vezes venho à tona quando ouço aquele riso que ecoa em meu ouvido como o tilintar de milhares de objetos metálicos caindo no chão ao mesmo tempo. Aquele riso que era o meu escape, que me resgatava não importando o quão profundo eu estivesse. E aí, quando se faz silêncio, acabo por submergir ainda mais. Melhor parar agora. Eu só quero que acabe, que passe. E se isso não acontecer, eis aqui a última coisa que escrevo.