3 de julho de 2009

Indelével

Busco algo que me inspire. Algo que me aqueça nesse tempo frio. E como demoro a encontrar, meu refugio é o papel. As palavras encantadas surgem no alto da folha, elas dançam na minha mente, tomam vida. Cores, amores, amigos. Materializam meus devaneios, as coisas que sinto, tornando dizível o indizível, de forma indelével.
Quando escrevo me perco – e acho.

1 de julho de 2009

Aquele sorriso


E acontece: o avista. Quer lhe falar coisas, coisas que sente.
Hesita.
Tinha uma frase que pensou, mas não conseguiu dizer. As letras dessa estrutura se despedaçaram, mas a estrutura do pensamento permanece intacta ali, camuflada por seu silêncio.
E ela permanece em silêncio. Ele a olha com uma cara incrédula de quem espera, paciente. Ela suspira um "oi" e se afasta sem olhá-lo. Queria gritar-lhe a plenos pulmões, para que a ouvisse e compreendesse. Talvez o tempo desloque os seus desejos, ou talvez o faça escutar o que ela diz baixinho, o que diz com os olhos toda vez que o vê. Com o coração a mil, cria coragem e olha para trás. Ele permanece lá parado olhando-a se afastar, com um ar de riso. Ah, aquele sorriso torto que a entorpece. O sorriso dele era o mais digno dos diamantes - ou qualquer outra pedra preciosa - para ela. E ele nem sabe disso, na verdade, ele sempre esteve ocupado demais durante todo esse tempo. Ela tem um súbito de medo. Será que ele desconfia? E se desconfiasse o que faria?
Um dia cria coragem e pergunta-lhe ela mesma.

30 de junho de 2009

Aos cavalos de Tróia

Lembro que quando eu era criança, quando eu ainda amava as pessoas, quando eu era uma pessoa afetiva, eu tinha vários amigos. Amigos esses que fui afastando com o tempo. O afeto deu lugar a frieza. Minha frieza é o meu sustento, minha proteção, minha defesa. Age como uma muralha. Mas a muralha tem sempre umas seteiras, que não servem somente para despejar óleo fervente sobre a audácia de qualquer invasor, que feito cavalo de Tróia, decidiu ver o que existe para além daquela fortaleza. Servem para espreitar o mundo, deixar de vez em quando entrar uns traços de luz e iluminar o pó que se assentou com tempo. Estou a tempos envolta nessa muralha, me sinto claustrofóbica, meu corpo deve ser pequeno demais para minha alma, ou minhas angustias grandes demais para caberem em mim. Ela costumava ser como uma porta, que se abria de vez em quando para uns poucos aventurados, mas que com o tempo foi se solidificando devido aos conflitos internos e a necessidade de reparos. Porém não há reparo que remova as cicatrizes que ficaram.
Aos cavalos de Tróia da vida, digo para se cuidarem. Essa muralha guarda uma fera. E a fera ta ferida, mas não ta morta.