30 de junho de 2009

Aos cavalos de Tróia

Lembro que quando eu era criança, quando eu ainda amava as pessoas, quando eu era uma pessoa afetiva, eu tinha vários amigos. Amigos esses que fui afastando com o tempo. O afeto deu lugar a frieza. Minha frieza é o meu sustento, minha proteção, minha defesa. Age como uma muralha. Mas a muralha tem sempre umas seteiras, que não servem somente para despejar óleo fervente sobre a audácia de qualquer invasor, que feito cavalo de Tróia, decidiu ver o que existe para além daquela fortaleza. Servem para espreitar o mundo, deixar de vez em quando entrar uns traços de luz e iluminar o pó que se assentou com tempo. Estou a tempos envolta nessa muralha, me sinto claustrofóbica, meu corpo deve ser pequeno demais para minha alma, ou minhas angustias grandes demais para caberem em mim. Ela costumava ser como uma porta, que se abria de vez em quando para uns poucos aventurados, mas que com o tempo foi se solidificando devido aos conflitos internos e a necessidade de reparos. Porém não há reparo que remova as cicatrizes que ficaram.
Aos cavalos de Tróia da vida, digo para se cuidarem. Essa muralha guarda uma fera. E a fera ta ferida, mas não ta morta.

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