1 de julho de 2009

Aquele sorriso


E acontece: o avista. Quer lhe falar coisas, coisas que sente.
Hesita.
Tinha uma frase que pensou, mas não conseguiu dizer. As letras dessa estrutura se despedaçaram, mas a estrutura do pensamento permanece intacta ali, camuflada por seu silêncio.
E ela permanece em silêncio. Ele a olha com uma cara incrédula de quem espera, paciente. Ela suspira um "oi" e se afasta sem olhá-lo. Queria gritar-lhe a plenos pulmões, para que a ouvisse e compreendesse. Talvez o tempo desloque os seus desejos, ou talvez o faça escutar o que ela diz baixinho, o que diz com os olhos toda vez que o vê. Com o coração a mil, cria coragem e olha para trás. Ele permanece lá parado olhando-a se afastar, com um ar de riso. Ah, aquele sorriso torto que a entorpece. O sorriso dele era o mais digno dos diamantes - ou qualquer outra pedra preciosa - para ela. E ele nem sabe disso, na verdade, ele sempre esteve ocupado demais durante todo esse tempo. Ela tem um súbito de medo. Será que ele desconfia? E se desconfiasse o que faria?
Um dia cria coragem e pergunta-lhe ela mesma.

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