15 de novembro de 2010

Caçador de raios

Nesse jeito de andar, cabeça erguida, bem ‘tô nem aí’ pra vida, já caminho há dezessete anos. Logo atrás de mim sinto a depressão que se aproxima, como uma nuvem carregada de chuva. Não há abrigo. Não me sinto pertencente a lugar algum. Imagino a chuva que está prestes a desabar sobre mim. Percebi que o passar do tempo me tornou cada vez mais ímpio e empedernido. Dois puta palavrões, que prefiro os dizer assim, causando estranhamento, do que um imediato entendimento clichê. 
Por um segundo penso em correr, talvez se eu for rápido o suficiente a nuvem não me alcance. Ou talvez, contrariamente, eu suba em algum lugar alto o bastante para, com sorte, ser atingido por um raio, comum em um tempo carregado como tal. Dois mil volts correndo pelo corpo, deixando para trás nada ao invés de pó. Do pó viestes, e é para lá que vais. Olha só que jeito atípico de morrer - Caçador de raios. Insano e desbravador. Só falta uma cortina e uma platéia.
Não. Nunca quis meus feitos testemunhados, pois isso é que torna as grandes ações mais fantásticas do que realmente foram. Assim maquiadas pelo contador da vez. Ninguém nunca terá realmente certeza do que houve, apenas você.
 Um raio que transforma em pó, de certo é mais interessante do que um corpo que afunda num mar, ou uma mente estraçalhada por um projétil. Tenho na minha mão um 38 com uma bala apenas. Numa roleta russa, entrego minha vida ao destino. E estou certo do que ocorrerá a seguir.
Desejo que o mundo tenha a decência de te manter jovem, Moleque. Diferente da alma velha e podre que me foi dada de presente. E olha,  garoto, desculpa. Desculpa por ser um péssimo exemplo de hombridade. Diversas vezes você testemunhou minha covardia e corajosamente mentiu para me proteger. Éramos você e eu contra o mundo. Agora é só você.
Eu odeio isso aqui, irmão.

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