20 de agosto de 2015

Teoria do caos

            Era uma manhã como aquelas que às vezes tínhamos - que não eram muitas - e nunca seriam numerosas o bastante pra me fazer não ansiar por outras tantas. Seus braços estavam envoltos em mim num abraço apertado e tão protetor quanto um ninho de João de Barro. Meu coração e o seu batiam juntos e um tanto desritimados, reverberando pelas placas tectônicas e suas falhas, fazendo erguer novas cordilheiras e abrindo imensas fossas abissais. Entre beijos que transitavam hora da minha têmpora ao meu queixo, hora do pescoço à minha boca, os teus olhos me olhavam tão de perto que eu podia sentir o deslocamento de ar do seu mover de cílios gerando um furacão em algum lugar do Havaí. Sorri ao ver o brilho em uma de suas mechas de cabelo que caía descuidada sobre os olhos, imaginando quantas calotas polares aquela fagulha de luz derretera. 
          Naquela manhã tranquila, naquele quarto meio iluminado, com as nossas pernas emboladas num emaranhado de cobertas, testemunhei a magnitude do nosso pequeno caos. 

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